O Primeiro Episódio da 2ª Temporada de The Last of Us é um Belo Tiro no Pé

O Primeiro Episódio da 2ª Temporada de The Last of Us é um Belo Tiro no Pé

Segunda temporada de The Last of Us pode não agradar fãs puristas do jogo

 No último domingo, dia 13, a HBO finalmente estreou o primeiro episódio da segunda temporada de The Last of Us, e como fã de longa data da franquia, corri para assistir assim que saiu. Eu estava empolgado, ansioso e sinceramente torcendo para me emocionar da mesma forma que o jogo me fez anos atrás. No entanto, o que encontrei foi uma adaptação tecnicamente bem feita, sim, mas com decisões narrativas que, na minha visão, simplesmente não funcionam.

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 Sendo assim, deixo claro desde o início: esta é a minha opinião pessoal, baseada tanto na experiência com os jogos quanto na expectativa de uma adaptação respeitosa. E por mais que existam momentos visualmente incríveis e atuações sólidas, confesso que saí desse episódio inicial com um gosto amargo na boca.

Mudanças que não incomodam… até incomodarem

 Não sou o tipo de pessoa que exige uma adaptação quadro a quadro. Entendo que mídias diferentes exigem abordagens diferentes. Ainda assim, há uma linha tênue entre adaptação criativa e descaracterização gratuita, e infelizmente, sinto que o episódio ultrapassou essa linha diversas vezes.

 Por exemplo, o início do episódio já toma um rumo totalmente diferente do jogo. Em vez de começar com a tensão crescente e o peso emocional que marcam o início de The Last of Us Part II, somos levados a uma narrativa mais contemplativa, até lenta, com foco exagerado na cidade de Jackson. Isso, por si só, não seria um problema se servisse para aprofundar os personagens, mas não foi o caso.

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Reprodução: HBO

O Joel que eu conheço não pediria ajuda

 O que mais me tirou da imersão, e sinceramente me fez franzir a testa, foi ver o Joel fazendo terapia. Antes de tudo, quero deixar claro: terapia é fundamental, válida, necessária. Não tenho absolutamente nada contra o tema — muito pelo contrário. No entanto, Joel, como personagem, nunca pediria esse tipo de ajuda.

 Esse é um homem marcado pela perda, pela culpa e pela sobrevivência. Tudo nele é contido, endurecido pelo mundo brutal em que vive. Esperar que esse personagem sentasse em uma sala e compartilhasse seus sentimentos com uma terapeuta é, na minha visão, um desvio grave de personalidade.

 Além disso, essa cena parece ter sido colocada apenas para reforçar a ideia de que “agora a série é do diretor”, como se precisasse deixar claro que ele tem o controle da narrativa. Porém, em vez de contribuir, essa decisão só fragiliza a construção do personagem e quebra a conexão que muitos fãs, inclusive eu, tinham com ele.

 

Ellie infantilizada e Dina fora de tom

 Outro ponto que me incomodou profundamente foi a forma como retrataram Ellie. Na segunda parte do jogo, ela já é uma jovem mais dura, mais contida, mais marcada pelas dores e experiências que viveu. No entanto, na série, ela parece mais infantil do que nunca, reagindo de forma exagerada, fazendo piadas fora de hora e perdendo parte da força emocional que a tornou tão memorável.

 Dina, por sua vez, tem uma boa atuação e continua funcionando como um ponto de equilíbrio, trazendo leveza e acalmando Ellie em momentos importantes. No entanto, o problema está no tom da personagem — que também foi infantilizado. Exemplo disso é quando ela trata atitudes irresponsáveis, como levar Ellie para ver infectados ou desobedecer ordens diretas, como se fossem aventuras empolgantes e divertidas, sem peso ou consequências reais.

 Sendo assim, a cena do beijo entre as duas, que no jogo é forte e cheia de significados, perde parte do impacto. Além disso, ela acontece em um momento completamente diferente da cronologia original, o que tira o peso dramático e emocional que carregava no jogo. A ordem dos eventos foi embaralhada de forma que compromete o ritmo e a construção de vínculos.

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Reprodução: HBO

Ritmo que cansa, não emociona

 Outro aspecto que me deixou frustrado foi o ritmo do episódio. Ele é lento — e não de um jeito bom. É como se estivéssemos gastando tempo demais em Jackson, uma cidade que, como sabemos, será deixada para trás muito em breve. Essa insistência em mostrar cada pequeno detalhe da vida ali não aprofunda os personagens nem fortalece a narrativa. Pelo contrário, me pareceu enrolação.

 Ainda mais preocupante é que, enquanto se perde tempo em situações pouco relevantes, momentos cruciais para o vínculo entre Joel e Ellie foram simplesmente ignorados. O jogo gasta tempo para mostrar como a relação entre os dois é tensa, distante e cheia de mágoas mal resolvidas. Já na série, essa tensão é suavizada, quase como se estivessem bem. Isso, para mim, é uma perda enorme.

Direção autoral demais para pouco respeito

 É evidente que o diretor quis deixar a sua marca nesse episódio. E tudo bem querer criar algo único. No entanto, me parece que o desejo de inovar passou por cima do compromisso com a essência da obra original.

 O episódio apresenta personagens inéditos, como uma terapeuta chamada Gail, vivida pela sempre competente Catherine O’Hara. Embora sua atuação seja sólida, sua presença não acrescenta nada ao desenvolvimento emocional entre Joel e Ellie. Pelo contrário, sua inclusão parece artificial, como um adorno que só serve para sublinhar ideias que o roteiro deveria mostrar, não explicar.

 Ainda mais preocupante é o sentimento constante de que a série está tentando se distanciar do jogo propositalmente. E isso, quando não vem acompanhado de um bom motivo, parece apenas vaidade artística.

Técnicamente impecável… emocionalmente raso

 Apesar de todos os problemas que aponto aqui, preciso reconhecer que, sim, o episódio é tecnicamente excelente. A direção de arte continua primorosa, os figurinos são bem pensados, a fotografia é linda e a trilha sonora continua evocando a melancolia que caracteriza a franquia.

 Além disso, Pedro Pascal e Bella Ramsey entregam boas atuações, mesmo com um roteiro que os limita em certos momentos. A qualidade da produção da HBO é inegável. No entanto, produção técnica sem alma não é suficiente. A essência de The Last of Us está no emocional, na dor contida, no peso do silêncio — e, nesse episódio, tudo isso ficou de lado.

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Reprodução: HBO

Quando se perde a mão no que mais importa

 No fim das contas, o primeiro episódio da segunda temporada de The Last of Us é visualmente bonito, bem produzido e com ótimos atores. Mas, sinceramente, como alguém que conhece e ama o jogo original, fiquei frustrado.

 As mudanças poderiam ter funcionado se tivessem sido feitas com mais cuidado e mais respeito aos personagens. No entanto, senti que tentaram criar algo novo só por ser diferente — e não por ser melhor.

 Ellie e Joel estão descaracterizados, a ordem dos acontecimentos foi alterada de forma que enfraquece o impacto emocional, e algumas decisões, como colocar Joel na terapia, simplesmente não condizem com o personagem.

 Dessa forma, saí do episódio não com raiva, mas com uma tristeza silenciosa de quem viu algo amado se perder no caminho. Ainda assim, vou assistir aos próximos episódios com o coração aberto, torcendo para que encontrem o tom certo. Mas por agora, a série tropeçou feio na sua própria ambição.

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